5 de nov. de 2012

Ruína


Quando amam
de verdade
as pessoas se sentem
livres
para fracassar

Abrem os buracos
da paixão
e
se sentem
livres
para amar

Pratos de
língua
comida

Quando amam
de verdade
as pessoas
estão prontas
para fracassar.

Não saber se presente
se surpresa
se manifesta

o beijo

nascendo fértil
no cu
de mocinhas
preciosas.

Criem
um roteiro
para o silêncio!

Porque a vida
é líquida.

E a morte
demora.


25 de out. de 2012

Da minha janela

Ele para o carrão.
Ela desce, novamente, a Santa Rita
à procura de uma dignidade.

Em casa ele abre as gavetas.
Triste lembrança de amores
que caíram em álbuns de retratos.

Na rua ela abre as pernas,
abre os buracos do amor.
Ele fecha os olhos, cama king
e uma boa dose de whisky.

Outro abre a carteira.

E a noite vai fechando os sonhos da menina apaixonada.


23 de out. de 2012

Agora os ombros suportam o mundo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou sublime.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem mais mensagens, escritos.
E o coração está repleto de calor.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste acompanhado, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não precisas sofrer.
E ainda, juntos, estão teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida grita
e os dois já se libertaram.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os censores) morrer. (ou matar)
Chegou um tempo em que não adianta morrer (nem matar)
Chegou um tempo em que a vida, feliz, é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


29 de ago. de 2012

Perdida


Jura
que você
chapada
lambeu
o tênis dele?

se faz de santa não!
tênis?


Poética I


Você faleceu
poesia

quando achava
que era quente
e foi fria.

21 de ago. de 2012

"Funkeira"


Eu vi hoje uma vaca.

Na imundície do salão
Beijando
Com as ancas
O chão.

A vaca não era preta
A vaca não era magra
A vaca não era malhada

(apenas pelos colegas)

A vaca, meu Deus, era uma aluna.




1 de ago. de 2012

Receita pra fazer artigo


Pegue um livro
outro livro
outro livro
Espalhe tudo sobre a mesa.

Pegue um xerox
outro xerox
outro xerox
outro xerox
outro xerox
outro xerox
outro xerox
Amontoe tudo sobre a mesa.

Óculos
Café Cigarro
Café Cigarro
Cigarro Café
Cigarro Cigarro
Cigarro
Café Café

A folha em branco.

Anote:
Nunca deixe para a última hora.



31 de jul. de 2012

Irregular


Às 21h ele chegou
Sentou no meu colo
Beijou como o passado
Abriu as janelas de uma gaiola
Onde os pássaros já se calavam.

Às 22h ele bebeu
Deitou no colo que era meu
Sorriu e sussurrou
As palavras que querem ouvir
Os perdedores.

Às 23h eu o amei.
Com o amor puro
Do rio que corre
E atravessa a cidade
Sem lembrar-se do que viu no caminho.



19 de jul. de 2012

Oração


Sem sabor de café quente,
quando aperta o coração,
e as mãos tremem de receio,
o pensamento da gente
se refaz em oração
de ladainhas sem freio.

Da juventude volta a antiga
emoção de crer em Deus
e se exalta de joelhos
enquanto dos olhos pinga
lágrima de filhos seus.

Perdoa, Pai, pelas vezes,
que quieto no meu canto,
no pensar na minha vida,
esquecia todos os seres,
que derramam tanto pranto,
e que não veem saída.

Há sempre algo escondido
para a inquieta razão,
que ainda prevalece.
Porém, eu fico Contigo,
já sorrindo, em oração,
pelo amor de que não esquece.

A Seus pés e mãos chagados,
a Seu olhar de dor suprema,
à imagem da Santa Cruz,
ergo olhos marejados
e uma fé grande e serena
e peço, Deus, me conduz!


28 de jun. de 2012

A minha alma

Não me cubro da mesma forma todos os dias.
Apesar de produto, um impulso não-convencional
me faz sair dessa coisa menos pior
para aprimorar as palavras.

O tempo não é angústia
para quem está numa sociedade histórica,
mas um semideus cruel,
na tentativa de abstrações da realidade,
algo que faça sentido,
nos ponteiros de um relógio.

O ciclo continua,
à espera de uma barbárie
para que venha outra vez o Messias
e restaure as ruínas passadas.

Passado um minuto
do horário marcado,
o abismal leva o sujeito
ao mergulho.

E os funcionamentos da memória,
requerendo experiências
e códigos
veem apenas o óbvio.

Quantas vezes o mistério
da vó era um boi!
__ Ele dança gracioso, meu filho,
balança como bailarina da cidade,
até enterrar o chifre no peão desafinado...

Como recuperar os cacos dessa imagem?
A minha alma foi feita de vidro...

Favor não esquecer
que os pedaços colados
não querem reinventá-la.

Querem mostrar o quão foi importante
ser quebrada.

20 de jun. de 2012

Da Getúlio à Federal: 541 - eu em movimento.


Os pombos dão rasantes inquietas na Praça da Estação
e o Renascença já não consegue fazer jus ao nome.
O tempo, incólume, insensato divide o momento e o pretérito
em que Halfeld “fundava” a história juiz-forana.

Em cada esquina um grande mercado trocando,
com os trabalhadores, os trocados.
Pedra, ferro e cimento cortando as árvores,
e delas, o ar de uma nova Juiz de Fora.

O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues enfeita a casa,
também universal, de Murilo Mendes.
Enquanto a Itália tenta se fazer lembrada
com suas massas-banquete para ricos.

Nada escapa. O alarido tão famoso da modernidade
também distancia, não toca.
E mais grades protegem os grandes.
Homem-bicho em sua toca.

São Roque espremido entre os arranha-chãos
e tudo rodeado da necessidade de falar inglês.
Universo, que não abrange o essencial,
Santa Glória e seu rotineiro eco papal.

Morros! Morro de cansaço!
Passo, passo a passo eu passo.
E tudo se esvai, pela praça nova do prefeito,
pelo “agora posso ter o meu lar”,

por um “pelo sinal da cruz”,
perdido na mão do pedinte,
pelos pérfidos pueris,
no Privilège de poucos...

E ponho perdida a tinta
por fazer perfil da cidade,
ficando somente um ponto,
na visão de muitos planos.

Quando chega o ponto final,
e, obrigado, desço do ônibus,
perco a criatividade
e entro na sala do mestrado.




23 de mai. de 2012

eu não sou eu

sou mais
um que sobrevive às perdas
que queda
abismo
que ergue
águia

nem sem nem cheio
nem margem nem meio

Outro
enlevo

não esse que tem dor sentimento
não esse que critica enxerga
não esse que provoca lamento
não esse que em entrelinhas se pega

não lírico!
não lírico!

Arrefecimento!
tísico!

não interessa esse eu
momento
pedra ou algo de valia

Sou eu
Além morte

Metamorfoseando
em poesia.


17 de mai. de 2012

Cru


Pro homem-sexo:

Quando ela preferir os tapas
às investidas violentas,
não siga em frente,
alguém já trilhou esse caminho.

Pro homem-amor:

Quando ela preferir a Coca-Cola
às declarações (ainda que hiperbólicas)
não sinta tanto
alguém já não vê, na cama, o ninho.

Pro sexo:
siga em frente.

Pro amor:
não sinta tanto.



16 de mai. de 2012

sobre o texto


condenação primária:
no início falaram
e da luz do verbo
se fizeram as trevas
das teorias literárias.

e sobre as linhas,
e sob a pressão,
o que restou na alvorada
foi só conserva
o pálido dos belos versos.



15 de mai. de 2012

Viva Benjamin!

Que existência sólida é essa, a cobrada,
que nunca vivi em meu interior?
Que leituras, resumos esses,
que não dizem sequer parte do real?

Como veem trigos nos campos
e, para a alegria de muitos,
se transformam em Cristo?

A chuva molha-me os pés
e não é confiável conhecer alguém
em dias de chuva.

Os olhos nadam.
O pensamento voa.
Os dedos aquecem
mais uma página em branco.

Será solo, demarcação de terra
que define literatura brasileira?


Não sei.
Mas Benjamin ainda responde a tudo.



Da visão de um Audi R8 5.2 parado na minha rua ou da rainha da baixa Santa Rita


O trabalho da arte tem de estranhar
E, com ele, agradecer ao que se entregou
Sangrar dedos, boca e mãos
Realizar o absurdo verso nu.

(...)

Ele, charutos fumados,
Nariz cansado, voz fugidia.
Ele, saltos
Paetê e bolsa, esquina.

Quando os filmes de mil traços
Cansam os olhos e o bom-senso
Não há tempo pra pensar
Nem fotos, quase mortos em álbuns de retratos.

Quando a Getúlio corta a madrugada
E encontra com a Santa na parte baixa
São belas, dadas a deleite,
Lúbricas e exaltadas.

Enquanto Bernardo enfeita o espaço
(Alta cultura presa em vidros)
O asfalto moderno abraça o fato
Da beleza travestida.

E são êxtases, valores e negócios
Até cantar o pneu
Cama redonda, espelho, espelho, espelho
Garfo e faca. E o pau comeu.

Canta madrugada, personagem,
Homem de gravata solitário!
Canta menina, pés e mãos no chão,
Que amanhã é dia de trabalho...


Manual de andar na chuva


Compre um guarda-chuva novo preto,
Aquele “pedaço de laje ambulante”,
Gigante.
Se chover, abra-o.
Na calçada, abaixo de marquises, fecho-o.
Na rua, abra-o.
Nas estruturas envidraçadas com que se protegem geralmente varandas, feche-o.
Na rua, abra-o.
Nos espécies de alpendres que servem de abrigo em alguns edifícios, feche-o.
E só na rua abra-o.

Assim se faz a convivência pacífica entre os transeuntes das vias em dias de chuva.


10 de mai. de 2012

ju et cetera

Não guardo raiva, eu guardo nomes.
Eu tenho pseudos sentimentos com os homens.

Eu falo desculpas, vou com o sentimento de outros.
Desperto sorrisos e agouros.

Faz sentido... eu gosto de contos...
Mas sem pôr, em minha fala, pontos.

Sou gentil, converso bem.

Detesto gente partidária,
que fecha a boca à crítica (mortalha).

Eu amo noite, rima pobre, falar asneiras.
E dou bote. Conselheira.

Sou dele, pele e abraço em ilha deserta.
Sou deles, plural macho e fêmea, desperta.

4 de mai. de 2012

Do sentimento traduzido em palavras...


Quando o coração da gente se apaixona,
e de alegria os olhos transbordam,
é como flor que sobrevive à seca,
é como cama quente,
abraço em ilha deserta.

Quando o coração da gente ama,
e de luz se faz qualquer noite,
é como semente que frutifica paz,
é como água de mar.
No inverno, chocolate quente.

Mas,
quando o apaixonado amor
vê seu par sofrer sem poder fazer nada,
é como raiz fincada em pedra,
cisco n’alma, dor que mata.


30 de abr. de 2012

Silêncio



Ouçam meu silêncio,
que lhes incomoda.
É desespero doentio,
que me desdobra.

Mais que versos e rimas,
meu calar é seu espaço,
já que na ausência de minhas
palavras há embaraço.

Toda escrita de poeta
não consegue dar voz
à linguagem secreta
que lhe surge algoz.

Marcado por diversidade,
já sem totalitarismos,
o poeta, na cidade,
é papagaio de ismos.

Sem prefácios, sem paródia,
silêncio que quer ser ouvido,
sem abraços, sem discórdia,
transtorno ferido.

Ouçam meu silêncio,
que lhes incomoda.
É desespero doentio,
que me desdobra.

A palavra é letal.
Quero ser homem-vivência!
Ela é instrumento.
Eu, experiência.

Mas não lhes darei a chave.
Essa palavra, sem clima,
às vezes é ave,
jogo que sublima.

E abismar-se na língua diária,
sendo ela enigmática,
é questão primária,
sem prática.

Percebes?

Cavei o silêncio.
Abri espaço pra outras vozes.

Tentem operar a passagem,
contemplar a folha em branco.
Mas a operação, a passada,
às vezes dada aos arrancos,

é sem glória e sem lamento.
Ouçam meu silenciar.
E dele, provoquem murmúrio
sem se ausentar.

Adiem a refeição!
Cozinhem em fogo lento!
O silêncio cru, pra alimentação,
é minha comida. Tento,

nas formas do vazio,
extrair, da terra, a raiz.
E, ainda que desvario,
dizer com o que não diz.

Constatem! O quase nada,
o caráter do calado, mudo,
faz-se espaço que não acaba,
é prenúncio para tudo.

Ouçam meu silêncio,
que lhes incomoda.
É desespero doentio,
que me desdobra.

E na produção literária,
vejam o sujeito enunciador:
é nunca o mesmo, é mortalha,
apenas visões de dor.

Mudança da mentalidade?
Fazer, no texto, o mundo?
Como? Se na realidade
desconhece-se o eu profundo.

A direção é falha.
A utopia é atravessada.
E, se comentarem o texto,
o produto será nada.

Nada = silêncio
Ouçam o meu,
Doentio,
Que é de vocês.

Água de lagoa.



28 de abr. de 2012

Amor contemporâneo


Me dá o cu amor?

Nossa... Você podia ser mais romântico né?

Tem razão, desculpe.

Me dá o cu amor?
Olhando para as estrelas,
Sob o luar que se esconde nos altos ramos,
Lembrando a silva das campinas,
Formando um só corpo,
Flor, semente de um grande amor.

25 de abr. de 2012

Momento-medo


Há xícaras sujas de ontem,
mas o sabor do café ainda é igual.
Tem roupa suja de passado
E no vesti-la vem a dor de abril.

Veja: nesse prazer de cantar,
vem quê de samba de criação,
gostinho de dor de mãe,
um “ajuda aqui, coração”.

Ah, não vem não com mal
de copos vazios
na madrugada a dentro.

Vem se fazer fértil, abraço.
Não deixa eu ver, desilusão,
Isso que me escapa à mão.

24 de abr. de 2012

Soneto


Em cada barraco muita gente
Que só quer espaço pra morar no Rio.
Não sabem que lhes falta aquilo que se sente
Quando, vendo-os, perplexo, sorrio.

Em cada porta, portinha, onde se encontram brasileiros,
Que têm a desigualdade no mesmo quarto,
Pesquisam, escutam, ouvem tudo, até tiroteios,
E aumentam os problemas, os fardos.

Muitos nordestinos-cariocas,
Que trazem nas costas tudo,
Pra tristeza ou surpresa minha.

Estupendos fios, ruídos, fofocas,
Saúde em eterno luto,
E eis aqui a cidade da Rocinha.

20 de abr. de 2012

Ontem, depois do Jô...

As paredes são claras, mas frias e minúsculas são as lembranças. A noite está silenciosa, mas obscura e, profundas, as falas sussurradas. Janelas fechadas, ainda que os vidros sejam transparentes e, na música do celular, uma ainda memória do calor do dia em que a energia teima em não morrer, como a luz. Tempos em que o cardápio se resumia à carne fria. Ainda assim, mesmo a caneta minguando a tinta, mesmo o sono apagando aquilo que até então as aulas seguravam, Algo corta o silêncio, sentado nos corredores e escadas do prédio: Um risinho saliente que ecoa pelo negrume das camas de casal usadas por solteiros. Alguém que geme: incontido perfume transbordando em gozo na madrugada juizforana.

18 de abr. de 2012

Desamparo

A um passo do erro supremo
Em que se dão processos mercadológicos
Da educação, direito extremo,
Desses filhos dos outros, pródigos,

Insere-se aquele que ensina,
Que cuida das nossas crianças,
Que das cinzas do medo, peregrina,
Ao íntimo do ser. E as finanças,

Deste que se doa a uma causa,
Simplesmente fogem tingidas
De inverdades midiáticas

Enquanto, novamente, ele vai à lousa,
Lê e escreve sob vozes fingidas,
Sobre a verdade: a mídia é perfídia.

17 de abr. de 2012

Poema em linha torta

Da política surgem barbaridades
E o educador é quem sofre a afronta
Mas poucos são os que plantam árvores
Muitos, os que querem sombra.

E do falso e indigesto puritano
Vem a ordem de uma voz calar:
A que ouve, do cidadão, o plano,
De viver, crescer, teimar.

Ah, quem me dera uma vez ouvir,
Da voz de quem manda, um agravo!
Será só o Fernando e eu vil?

Será só o poeta detentor de destreza?
Se assim for, serei eu o infame,
Como Pessoa, no sentido infame e mesquinho da vileza.

14 de abr. de 2012

Negócio

Vendo:

1 - dois óculos lindos vermelhos
para ver melhor,
nunca usados;

2 - venda para os olhos
cegos;

fechando aquilo que
aparentemente nunca foi aberto.

Preço: ficar calado.

11 de abr. de 2012

Pintar


Não a moça que morde o leque,
Que existe mais para o prazer do outro.
Nem o moço, cabeça feita no barbeiro,
E de elegância comprada ao alfaiate.

Sim, a atriz, objeto de prazer público.
Sim, o ator, lembrete da mascarada perfeição.
Viva as alamedas zebradas de sombra e luz
Em que poetas ancoram-se fatigados!

Basta de sujeitos contemporâneos,
De mocinhas das letras pedagógicas, pontuais, disciplinadas,
Já que suas características é a de não terem nenhuma.

Algo de efeito assombra,
E mesmo romântico, não consigo pintar:
Esse sabor amargo do vinho da vida.

10 de abr. de 2012

Do lar.


Estou decorada, mas triste, sem sal.
São tênues as verdades quando chega o carnaval.
A máscara na face, de monstro,
Revela a tamanha dor do desencontro.
Mil horas na esperança de uma só hora
Passo os dias de respeito, de senhora.
Para não descartar o que me aquece,
Só mais um porto e a ideia esquece.
Só determinadas cores servem a minha alma
Só desengonçadas dores perdem-me a calma.
Quero mais um desses dominantes,
Voltar a ser a dona de antes.

Adversidades

Eu não queria... mas,
Do perfume em nossa cama,
A lembrança, exalavas
De quem, já cedo, desama.

Eu não queria... porém,
Cupido estava em festa,
Da qual o amor advém,
E em peito-pedra encrespa.

Eu não queria... contudo,
Trago flores vermelhas na mala,
E num ritmo dissoluto,
Tento, lágrima, enxugá-la.

Eu não queria... todavia,
Uso desse meu rancor
Para, contínua e sempre fria,
Tornar a noite um sobrepor.

Eu não queria... no entanto,
Em dias, sem sua mão,
Nuvens negras, novamente, planto,
Enquanto luz e amor se vão.

Eu não queria... entretanto,
Gasto, contigo, palavras...
Enquanto em versos relanço
Lembranças que na cama exalas.

2 de abr. de 2012

Até ficar com dó de mim...

Eu queria curtir o curtir dos outros...
até que meus "curtis" cotidianos invadam a maravilhosa
vida dos ricos, rios rubros de riqueza,
que riem risinhos ricos em rixa...
Ah... quanta coisa falei e pensei...

Pela minha lei,
era obrigado a gente ser feliz.
Você nem avisou, foi embora,
em boa hora,
embora meu peito chute...

E eu nem sabia que naquela única
vez que senti-me em você, interior,
eu amava como se fosses a última...

A música não é de gargalhar
quando se sente pássaro.

1 de abr. de 2012

Sentimentos gastos

À noite todos os gatos são pardos,
mas ainda continuo negros aos olhos dos viventes.
Os que ainda acreditam no amor dos tolos,
os que na rua atravessam entre as gentes.

Continuo lúgubre e sombrio,
diante dos que santos, se fazem em máscaras.
Visão distorcida e sem brilho,
olheiras, lágrimas cansadas.

Canto o canto da morte do sorriso,
ausência de calma.
Canto o fim da certeza do que é visto,
ausência de luz na alma.

E por fim elevo preces ao salvador,
pros que ainda sentem falta de amor.

28 de mar. de 2012

Menos um pouco de alegria...

Entre o imponente contemporâneo
(Tomado emprestado o teor de suas vozes)
Transpassaram o segundo plano
Verdadeiros políticos ferozes.

Se densa faz-se a escrita dos versos
Motivo encontra no sofrimento contido
De que não se podem negar tropeços
De um após outro pranto caído.

Um, que múltiplo, fez-se complemento,
Dos que, simples, revivem, presente, reprises.
Outro, que múltiplo, fez-se tormento,
Dos seres dos desmandos, sem diretrizes.

Por que deixa a noite sem brilho,
Chico Anysio?
Por que deixa a manhã sem humor,
Millôr?

__ Porque não deves julgar asperezas!
Fosses tu em nossa condição,
As decisões seriam as mesmas.

__ Por que não importa o corpo que é só Não!
Importa a Arte, que ressuscita!

Assim vem o sono, nostalgia,
Menos um pouco de alegria...

27 de mar. de 2012

Morte

Vem com caudalosas garras de abutre
Faminta em serena plenitude
E com o meu, o seu sangue nutre
Meus dentes, já sem atitude.

Vem com mão fria e cálida
Apalpa-me o músculo fibroso
Molesta-me a face pálida
O viver já custoso.

Vem madrinha da hora incerta
Mãe de quem teme, de novo, sofrer
Deita-me em seus braços, desperta
Lembrança que não se pode esquecer.

Vem dama da noite velada
Beijo frio e assustador
Ira sorrateira e calada
Segura para onde for.

Vem vestida de vermelho e branco
Leva do gosto o semblante
Seja breve, sem arranco,
Meu tronco, em terra seca, plante.

Vem noite já sem estrela
Escurece-me triste o olho
E esperando-a, possa não vê-la
Que vermes! Que presente colho!

Vem doce... Velhinha secular!
Branda, linda e certa!
Vem cantando, ceifando meu lar
Atraca, desliga-me o alerta.

Vem vestida de cetim
Com muita pena a seu lado
Mostra-me sorrindo o fim
O sonho já esquartejado.

26 de mar. de 2012

A casa da bisa.

As janelas já estão cerradas,
E as flores reclamam os sorrisos de outrora.
Os frutos de árvores já minguadas,
E a lembrança de alguém que foi embora.

No quintal florescem ervas daninhas,
E as paredes iniciam a perda da cor.
Já não há cães, bois ou galinhas,
Como se tudo demonstrasse dor.

O portão, caído, sem força,
Folhas secas pela terra...
O céu de negras nuvens remoça
A lembrança da vida que erra.

Apenas a frase em sua derradeira casa
Reflete, em quem ama, carinho.
Saudade, enorme, que arrasa...
Ali era “o seu cantinho”...

22 de mar. de 2012

Coragem de sonhar

Ao amigo da poesia independente.

Por que tachar a minha literatura de malefício
e, atacando, fazer-me mau em seus valores,
se apenas nego, com coragem em meu ofício,
dando, aos que leem, indescritíveis sabores?

Meu diferencial não é pura aparência,
se ainda detenho, mesmo simples, individualidade.
Por que destruir, pelo domínio, minha essência,
e afirmar, com o consumo, tal pseudo-realidade?

Por que atacar a concepção do desconhecido,
já que o homogêneo não existe mais?
Julgar-me morto, quiça enlouquecido,

Se a fórmula é pura, simples demais?
Esqueceram que assim se mata o autor?
Cretinos! Morto este, nasce o leitor!

Recado em preto e branco

Sou vítrea:
e o veneno está nesse corpo negro e forte
que faz qualquer menina
desfazer da própria sorte.

Sou branca:
pó azul diluído na veia.
E mares em olhos sedentos sublimes
Maré do desejo que enfim pranteia.

Sou turva:
corpo escravo e obediente.
Imagem-reflexo de sua atitude,
latente, doando,
que já não se ilude.

Sou negra
do corpo branco: alarme!
dividida: história, arte.

E do seu claro amor,
que ausenta a necessidade de qualquer cor,
coloca-se o preto no branco
Invade-me.
Cessa-se o pranto.

16 de mar. de 2012

À mamãe

Tristeza é só o derramar das águas de mar de nosso interior,
já que a vida não permite que o momento seja um ensaio.
Colo e ombro amigos nessa queda, em que não sou eu quem cai,
são portas abertas no peito, dor que sublima.

Nas horas em que o mistério maior da vida, o fim,
sopra em nossos ouvidos o vento fúnebre da noite,
vêm à mente inquieta, como forte açoite,
as travas e aldrabas negras que bloqueiam luz.

Dei pra chorar sem beber, dormir na nova realidade.
E dentre os sonhos que sonhei, para tudo ser maior,
de que valerão - trabalho, sucesso, verdade –
se há o medo da ausência? Minha mãe?

15 de mar. de 2012

No ônibus a caminho da UFJF...

Manhã

Os que sobem olham soberanos
os que, abaixo, ainda fazem planos
de encostar-se aos que erguem braços
e sorriem, pernas, embaraços.

Dentro, gladiadores,
de vis olhares opressores,
à espera de um trono vago,
distante, que surja ao acaso.

E aquele a quem se doa o óbulo,
que nesse meio caminha-se à morte,
assume linguagem de filósofo
a dissertar sobre Deus, morte e sorte.

E assim extingue-se a alegria
de quem o contrário, talvez faria,
já que ônibus cheio é pleonasmo
e nele, começar bem o dia, sarcasmo.

14 de mar. de 2012

Palavra-osso

Se a palavra é a que não quebra osso,
Endivido-me com aquelas outras
Que vêm no momento de desgosto
Deixando braços e mãos frouxas.

Se a palavra é a que não quebra osso,
Empresto-me daquelas rápidas
Que não mascaram meu rosto
Deixando bocas e mãos ávidas.

Se a palavra é a que não quebra osso,
Roubo toda a palavra reta
Que não faz sequer alvoroço
Mas deixa a mente inquieta.

Se a palavra é a que não quebra osso,
Coloro-as, pétalas de flor
E de lábios sedentos ouço
Mais uma declaração de amor.

Se a palavra é a que não quebra osso,
Não transforma, reforma, nem cria,
Guardo-a no fundo de um poço
À espera que vire poesia.

10 de mar. de 2012

Sérgio Sampaio

A alegria sorri pra mim, sim.
Covarde e medrosa com seus dentes
Cariados.

Enquanto a saudade, num láláiê
feliz, campeia pelas milhas do meu destino,
infeliz.

Imperfeita vida de poeta...

Quase me sinto bem, contra-mão de gente comum.
Quando os olhos do amor vêm ver o que há,
Ficam três meses.

Quarto mês:
Criatura sem nexo.
Quantas cartomantes, luas e sonetos!

Mas que pude fazer?

Qual bar me escutou maior lamento?
Quantos idiomas, ó lágrimas,
usaram para me traduzir?

Quantos modernos sambas de angústia,
Instantes e sinais fechados...

Foi como o fogo incontrolável
Que se apagou.

Minha alegria,
não desafina!

Pois, justo, se o ar faltar,
Deus não se encantará...

Estranha pintura,
Que sai da moldura!

Sei como dói.

Mas ainda que podre,
A maçã do amor será sempre bela...

6 de mar. de 2012

Antiode a São João Nepomuceno (velha metonímia)

A cidade amontoou-se sobre pântano diverso
Assemelhando-se seus membros a sapos e pererecas
Que de difícil tarefa, a de transformá-los em verso,
Julga, sublime comparação, o poeta.

Porque sem direito à devida resposta em linguagem,
Pede-se perdão aos nobres seres puladores
Por receberem dos humanos tal roupagem
Se não o são, como tais, bajuladores.

Em bela corja, acrítica, de mentes provincianas,
Vivem sem sina, cômodos, felizes,
Homens-sapos, inchados de tão bacanas
Que nada o peito, no fundo, sensibilize.

E mulheres semi-amadas, comportadas, de ar frívolo
Em verdade, antítese da história do santo padre,
Que teve a língua, intacta, encontrada em túmulo
Já que a delas, de serpente graciosa, arde.

E muitos são os perfeitos, modelos como o poeta foi!
Ainda que progridam, sem amor e sem verdade...
Mascaram-se sapos, ausência de identidade
Poema antigo, estampa farsa, que foi!

Poeta já foi rei?
Não foi!
Foi!
Foi!
Não foi!

26 de fev. de 2012

Antiode (a favor da profundidade)

Estou farto de gente.
Desta gente.

Porcos todos!
Pouco! Todos!
Inúteis!

Eles têm orgulho em ver um amigo modelo fazendo sucesso,
Na Marie Claire.
Aplaudem e entoam cânticos etéreos para o novo apresentador do jornal,
Alterosa Alerta Sensacionalista.
Defendem com palavras e argumentos a vida de um nobre cidadão,
Do Big Brother Brasil.
Protagonizam caminhadas em um ‘viva!’ à juíza de direito,
Que mandou prender um traficante.
Estão ligados ao mundo pela internet,
E postam “indo pro banho”.
Reportam ao mais alto nível o grande economista e sua receita financeira de início de ano,
Não gastar mais do que se tem.
E continuam na mesma linha global:
Morte, drogas, morte, roubo, morte, fome, morte...
E os gols da rodada.

Por favor.
Queria cerrar os ouvidos, os olhos, a boca,
E apenas cheirar o fácil, o óbvio e o podre.

22 de fev. de 2012

Preguiça carnavalesca.

Três são aqueles que pululam o Carnaval:

os que se sentem felizes com qualquer foto,
os que se assentam nas latas de lixo,
e os que acreditam em constelações de sóis.

Daqueles, trago lembranças coloridas,
beijos e rumores do que poderia ter sido,
não fosse a ausência de amores.

Desses, trago o olhar canhoto,
insosso e metido à solidão,
silencioso, de ar contido.

Destes, trago a etérea ilusão:
a felicidade faz-se sempre omissa à face!

E nas cinzas da quarta-feira,
o que vale
é a preguiça que meu peito invade.

18 de jan. de 2012

Sentes?

Estou no palco do medo real
Entre vidas corridas contendo
Mais que olhares isentos
De culpa, dor ou tal
Lembrança do ido,
doído.

O que ficou não foi só memória
Nem recortes em papéis, jornais
Mais que mãos tremendo
De não sei quê, mal
Interior, cor roído,
corroído.

Os pés em pé e o corpo deitado.
Entre desenhos no teto
Mais que turva visão
De lamento, cansaço,
Nervos de aço,
desabraço.

Na força estranha do perdão
Nem acordes, cafés, cigarros
Mais que o vazio do triplo não
De esperar, tempo lá
Distante lá,
lamento.

Não basta só passar o vento
Entre cortes, pulsos, pescoço
Mais que ausência de entendimento
De gratidão, trabalho árduo
Se enganar,
esganar.

E tudo quanto pôde ser e não foi
Nem o positivo fazer-se saudoso
Mais que as marcas, marcas
De visíveis ais de dor
Sem sibilar,
sensibilidade.

3 de jan. de 2012

Sentimentais

A verdade dói
A dúvida corrói
A mentira destrói
E o pintinho piu






(tive de registrar isso que li navegando).