Vem com caudalosas garras de abutre
Faminta em serena plenitude
E com o meu, o seu sangue nutre
Meus dentes, já sem atitude.
Vem com mão fria e cálida
Apalpa-me o músculo fibroso
Molesta-me a face pálida
O viver já custoso.
Vem madrinha da hora incerta
Mãe de quem teme, de novo, sofrer
Deita-me em seus braços, desperta
Lembrança que não se pode esquecer.
Vem dama da noite velada
Beijo frio e assustador
Ira sorrateira e calada
Segura para onde for.
Vem vestida de vermelho e branco
Leva do gosto o semblante
Seja breve, sem arranco,
Meu tronco, em terra seca, plante.
Vem noite já sem estrela
Escurece-me triste o olho
E esperando-a, possa não vê-la
Que vermes! Que presente colho!
Vem doce... Velhinha secular!
Branda, linda e certa!
Vem cantando, ceifando meu lar
Atraca, desliga-me o alerta.
Vem vestida de cetim
Com muita pena a seu lado
Mostra-me sorrindo o fim
O sonho já esquartejado.
Lembrei de Jungueira Freire e seu "pensamento gentil de paz eterna, amiga morte, vem".
ResponderExcluirNunca imaginei a morte vestida de vermelho e branco...