23 de mai. de 2012

eu não sou eu

sou mais
um que sobrevive às perdas
que queda
abismo
que ergue
águia

nem sem nem cheio
nem margem nem meio

Outro
enlevo

não esse que tem dor sentimento
não esse que critica enxerga
não esse que provoca lamento
não esse que em entrelinhas se pega

não lírico!
não lírico!

Arrefecimento!
tísico!

não interessa esse eu
momento
pedra ou algo de valia

Sou eu
Além morte

Metamorfoseando
em poesia.


17 de mai. de 2012

Cru


Pro homem-sexo:

Quando ela preferir os tapas
às investidas violentas,
não siga em frente,
alguém já trilhou esse caminho.

Pro homem-amor:

Quando ela preferir a Coca-Cola
às declarações (ainda que hiperbólicas)
não sinta tanto
alguém já não vê, na cama, o ninho.

Pro sexo:
siga em frente.

Pro amor:
não sinta tanto.



16 de mai. de 2012

sobre o texto


condenação primária:
no início falaram
e da luz do verbo
se fizeram as trevas
das teorias literárias.

e sobre as linhas,
e sob a pressão,
o que restou na alvorada
foi só conserva
o pálido dos belos versos.



15 de mai. de 2012

Viva Benjamin!

Que existência sólida é essa, a cobrada,
que nunca vivi em meu interior?
Que leituras, resumos esses,
que não dizem sequer parte do real?

Como veem trigos nos campos
e, para a alegria de muitos,
se transformam em Cristo?

A chuva molha-me os pés
e não é confiável conhecer alguém
em dias de chuva.

Os olhos nadam.
O pensamento voa.
Os dedos aquecem
mais uma página em branco.

Será solo, demarcação de terra
que define literatura brasileira?


Não sei.
Mas Benjamin ainda responde a tudo.



Da visão de um Audi R8 5.2 parado na minha rua ou da rainha da baixa Santa Rita


O trabalho da arte tem de estranhar
E, com ele, agradecer ao que se entregou
Sangrar dedos, boca e mãos
Realizar o absurdo verso nu.

(...)

Ele, charutos fumados,
Nariz cansado, voz fugidia.
Ele, saltos
Paetê e bolsa, esquina.

Quando os filmes de mil traços
Cansam os olhos e o bom-senso
Não há tempo pra pensar
Nem fotos, quase mortos em álbuns de retratos.

Quando a Getúlio corta a madrugada
E encontra com a Santa na parte baixa
São belas, dadas a deleite,
Lúbricas e exaltadas.

Enquanto Bernardo enfeita o espaço
(Alta cultura presa em vidros)
O asfalto moderno abraça o fato
Da beleza travestida.

E são êxtases, valores e negócios
Até cantar o pneu
Cama redonda, espelho, espelho, espelho
Garfo e faca. E o pau comeu.

Canta madrugada, personagem,
Homem de gravata solitário!
Canta menina, pés e mãos no chão,
Que amanhã é dia de trabalho...


Manual de andar na chuva


Compre um guarda-chuva novo preto,
Aquele “pedaço de laje ambulante”,
Gigante.
Se chover, abra-o.
Na calçada, abaixo de marquises, fecho-o.
Na rua, abra-o.
Nas estruturas envidraçadas com que se protegem geralmente varandas, feche-o.
Na rua, abra-o.
Nos espécies de alpendres que servem de abrigo em alguns edifícios, feche-o.
E só na rua abra-o.

Assim se faz a convivência pacífica entre os transeuntes das vias em dias de chuva.


10 de mai. de 2012

ju et cetera

Não guardo raiva, eu guardo nomes.
Eu tenho pseudos sentimentos com os homens.

Eu falo desculpas, vou com o sentimento de outros.
Desperto sorrisos e agouros.

Faz sentido... eu gosto de contos...
Mas sem pôr, em minha fala, pontos.

Sou gentil, converso bem.

Detesto gente partidária,
que fecha a boca à crítica (mortalha).

Eu amo noite, rima pobre, falar asneiras.
E dou bote. Conselheira.

Sou dele, pele e abraço em ilha deserta.
Sou deles, plural macho e fêmea, desperta.

4 de mai. de 2012

Do sentimento traduzido em palavras...


Quando o coração da gente se apaixona,
e de alegria os olhos transbordam,
é como flor que sobrevive à seca,
é como cama quente,
abraço em ilha deserta.

Quando o coração da gente ama,
e de luz se faz qualquer noite,
é como semente que frutifica paz,
é como água de mar.
No inverno, chocolate quente.

Mas,
quando o apaixonado amor
vê seu par sofrer sem poder fazer nada,
é como raiz fincada em pedra,
cisco n’alma, dor que mata.