25 de out. de 2012

Da minha janela

Ele para o carrão.
Ela desce, novamente, a Santa Rita
à procura de uma dignidade.

Em casa ele abre as gavetas.
Triste lembrança de amores
que caíram em álbuns de retratos.

Na rua ela abre as pernas,
abre os buracos do amor.
Ele fecha os olhos, cama king
e uma boa dose de whisky.

Outro abre a carteira.

E a noite vai fechando os sonhos da menina apaixonada.


23 de out. de 2012

Agora os ombros suportam o mundo



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou sublime.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem mais mensagens, escritos.
E o coração está repleto de calor.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste acompanhado, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não precisas sofrer.
E ainda, juntos, estão teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida grita
e os dois já se libertaram.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os censores) morrer. (ou matar)
Chegou um tempo em que não adianta morrer (nem matar)
Chegou um tempo em que a vida, feliz, é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.