28 de jun. de 2012

A minha alma

Não me cubro da mesma forma todos os dias.
Apesar de produto, um impulso não-convencional
me faz sair dessa coisa menos pior
para aprimorar as palavras.

O tempo não é angústia
para quem está numa sociedade histórica,
mas um semideus cruel,
na tentativa de abstrações da realidade,
algo que faça sentido,
nos ponteiros de um relógio.

O ciclo continua,
à espera de uma barbárie
para que venha outra vez o Messias
e restaure as ruínas passadas.

Passado um minuto
do horário marcado,
o abismal leva o sujeito
ao mergulho.

E os funcionamentos da memória,
requerendo experiências
e códigos
veem apenas o óbvio.

Quantas vezes o mistério
da vó era um boi!
__ Ele dança gracioso, meu filho,
balança como bailarina da cidade,
até enterrar o chifre no peão desafinado...

Como recuperar os cacos dessa imagem?
A minha alma foi feita de vidro...

Favor não esquecer
que os pedaços colados
não querem reinventá-la.

Querem mostrar o quão foi importante
ser quebrada.

20 de jun. de 2012

Da Getúlio à Federal: 541 - eu em movimento.


Os pombos dão rasantes inquietas na Praça da Estação
e o Renascença já não consegue fazer jus ao nome.
O tempo, incólume, insensato divide o momento e o pretérito
em que Halfeld “fundava” a história juiz-forana.

Em cada esquina um grande mercado trocando,
com os trabalhadores, os trocados.
Pedra, ferro e cimento cortando as árvores,
e delas, o ar de uma nova Juiz de Fora.

O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues enfeita a casa,
também universal, de Murilo Mendes.
Enquanto a Itália tenta se fazer lembrada
com suas massas-banquete para ricos.

Nada escapa. O alarido tão famoso da modernidade
também distancia, não toca.
E mais grades protegem os grandes.
Homem-bicho em sua toca.

São Roque espremido entre os arranha-chãos
e tudo rodeado da necessidade de falar inglês.
Universo, que não abrange o essencial,
Santa Glória e seu rotineiro eco papal.

Morros! Morro de cansaço!
Passo, passo a passo eu passo.
E tudo se esvai, pela praça nova do prefeito,
pelo “agora posso ter o meu lar”,

por um “pelo sinal da cruz”,
perdido na mão do pedinte,
pelos pérfidos pueris,
no Privilège de poucos...

E ponho perdida a tinta
por fazer perfil da cidade,
ficando somente um ponto,
na visão de muitos planos.

Quando chega o ponto final,
e, obrigado, desço do ônibus,
perco a criatividade
e entro na sala do mestrado.