27 de mar. de 2012

Morte

Vem com caudalosas garras de abutre
Faminta em serena plenitude
E com o meu, o seu sangue nutre
Meus dentes, já sem atitude.

Vem com mão fria e cálida
Apalpa-me o músculo fibroso
Molesta-me a face pálida
O viver já custoso.

Vem madrinha da hora incerta
Mãe de quem teme, de novo, sofrer
Deita-me em seus braços, desperta
Lembrança que não se pode esquecer.

Vem dama da noite velada
Beijo frio e assustador
Ira sorrateira e calada
Segura para onde for.

Vem vestida de vermelho e branco
Leva do gosto o semblante
Seja breve, sem arranco,
Meu tronco, em terra seca, plante.

Vem noite já sem estrela
Escurece-me triste o olho
E esperando-a, possa não vê-la
Que vermes! Que presente colho!

Vem doce... Velhinha secular!
Branda, linda e certa!
Vem cantando, ceifando meu lar
Atraca, desliga-me o alerta.

Vem vestida de cetim
Com muita pena a seu lado
Mostra-me sorrindo o fim
O sonho já esquartejado.

Um comentário:

  1. Lembrei de Jungueira Freire e seu "pensamento gentil de paz eterna, amiga morte, vem".
    Nunca imaginei a morte vestida de vermelho e branco...

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